Malta desponta como novo destino preferido dos jogadores brasileiros na Europa

roba 180319País supera mercados como China e Espanha e é a quarta liga a mais contratar atletas nacionais em 2018

Em vez da onda recente do milionário futebol chinês, do poderio econômico das libras esterlinas inglesas ou da tradição das equipes espanholas, a pequena Malta é um dos mercados que mais têm crescido na contratação de jogadores brasileiros. O país insular vizinho da Itália, conhecido pelas praias paradisíacas e paisagens históricas, foi o quarto que mais levou atletas de equipes do Brasil em 2018.

Segundo dados divulgados pela CBF, 31 jogadores saíram do Brasil na última temporada e migraram para a pequena nação europeia localizado no Mar Mediterrâneo. Em quantidade de negociações para o exterior, somente os tradicionais destinos de Portugal, Arábia Saudita e Japão contrataram mais atletas do futebol brasileiro em 2018.

Malta tem menos de 500 mil habitantes e conta atualmente com 59 jogadores brasileiros nas duas primeiras divisões – outras divisões são “amadoras”. Desse total, 36 disputam a principal liga e representam cerca de 10% dos atletas profissionais inscritos no campeonato. Nenhuma outra nacionalidade estrangeira tem tanta presença.

Para o agente de jogadores Marcelo Robalinho, Malta tem recebido tantos brasileiros por ser uma parada estratégica antes de transferências para outros destinos mais importantes da Europa. "É um mercado de entrada no continente europeu, assim como Moldávia, Letônia e Lituânia. Quem vai para lá, busca ter uma primeira experiência antes de seguir para outros países", disse o empresário, que já trabalhou em transferências para o futebol maltês.

Um dos brasileiros que se transferiram para Malta em 2018 foi o atacante Tiago Adan, de 31 anos. O jogador trocou o paulista Novorizontino pelo Hibernians com o objetivo de chamar a atenção de outros clubes em países mais tradicionais.

"Vim no intuito de abrir portas, seja em outros países da Europa ou na Arábia Saudita, que tem vários olheiros por aqui. Tive amigos que usaram Malta como atalho e depois saíram. Pretendo ficar umas duas temporadas", disse. Adan tem outros quatro compatriotas no elenco.

Por ter uma população reduzida, os clubes malteses procuram reforços estrangeiros para se reforçar. Os atletas locais formam apenas 54% dos profissionais inscritos na primeira divisão. Cada time pode ter no elenco até sete forasteiros. Depois do Brasil, italianos, argentinos e sérvios são as principais nacionalidades na liga nacional.

O grande número de estrangeiros não se traduz em utilização na seleção de Malta. A federação é exigente com nacionalizações e exige que o jogador more no país por cinco anos.

No ano passado, Malta recebeu cerca de 2,5 milhões de turistas, segundo números do governo. O fluxo de visitantes encarece alguns setores da economia, como restaurantes e imóveis. O aluguel mensal de um apartamento simples no país custa aproximadamente R$ 3 mil. O salário de um jogador profissional da primeira divisão é de, em média, R$ 6,5 mil.

Malta atrai brasileiros por pagar em euro e por condições mais fáceis de adaptação. O clima é mais ameno e o idioma facilita, pois a população fala inglês e italiano. Por isso, em dez anos o número de jogadores brasileiros quase que dobrou. Em 2009, eram 19 representantes, enquanto que agora são 36.

O ex-zagueiro Renato Conceição foi um dos primeiros brasileiros a se aventurar por Malta. Foram 12 anos como profissional. Agora ele está há três temporadas como técnico da base de um time local chamado Floriana. A longa trajetória no país o fez até abrir uma agência de intercâmbio especializada em receber brasileiros interessados em estudar inglês. "Os jogadores vêm para cá pela vitrine de estar na Europa e perto da Itália. O salário não é bom, mas vale para fazer currículo", diz.

PONTE

O atacante Jorge Santos, de 31 anos, escolheu Malta como um destino para adquirir experiência. O jogador deixou o futebol do Mato Grosso do Sul para ficar cinco temporadas no país à espera de uma oportunidade em outro mercado melhor. "Eu sabia que se fosse bem, apareceria outros lugares", disse o atual jogador do Qadisiah, da Arábia Saudita. "A liga não tem visibilidade, mas me ajudou a ter números eficientes. Isso importa muito para outros lugares. Você precisa estar jogando e indo bem", explicou.

O meia Gilmar, do Hatta, dos Emirados Árabes Unidos, ficou três anos na ilha de Malta e torce para que mais compatriotas desbravem esse caminho. "Para quem busca carreira fora, Malta pode ser o início. Os malteses gostam de brasileiros."