Para futuras reposições no São Paulo, Ceni pode confiar em Cotia

A saída de Luiz Araújo trouxe à tona algumas questões importantes sobre o aproveitamento de jogadores da base.

Se por um lado a venda de mais uma promessa reafirmou a vocação do São Paulo em preparar jogadores que atendam aos requisitos europeus, por outro enfraqueceu ainda mais o grupo do técnico Rogério Ceni e levanta a dúvida sobre por quanto tempo os jovens devem permanecer no Tricolor.

 


Desequilibrado, o elenco apresenta carências cada vez mais visíveis em alguns setores, para os quais não há variedade ou mesmo qualidade disponível. Um deles é justamente o dos atacantes que jogam pelos lados do campo. Em nítida ascensão, vai embora deixando a sensação de que poderia ter feito ainda mais pelo Tricolor. Para piorar a situação, mais nomes podem deixar o Morumbi.


Na verdade, outros dois já foram: Chávez e também João Schmidt, que se irá se despedir no fim do mês, reduzindo, assim, de 31 para 28 jogadores de linha à disposição. Na defesa, o selecionável Rodrigo Caio pode receber uma proposta a qualquer momento e Lugano ainda não renovou; Thiago Mendes, mantido – talvez a contragosto –, também entrou no radar do Velho Continente; mas a pior das saídas seria a de Júnior Tavares, cada vez mais cobiçado pelo Ajax.


As baixas – em pleno andamento da temporada – levantam a discussão sobre a política de gestão da instituição São Paulo Futebol Clube. As negociações têm deixado claro que os objetivos futebolísticos ficaram de lado para atender às necessidades financeiras. Mais do que se pronunciar por meio de um balanço financeiro, a diretoria precisa expor de maneira cristalina como vem sendo investido e qual a estratégia para o uso do dinheiro das negociações.


Desde quando o CFA Laudo Natel foi inaugurado, em 2005, o Tricolor conseguiu obter ganhos esportivos e, principalmente, econômicos com os pratas da casa. Além de Lyanco e Luiz Araújo, neste ano, podemos lembrar dos casos de Denílson (2006/2015), Breno (2007), Alex Silva (2008), Hernanes (2010), Bruno Uvini, Lucas Moura e Oscar (2012), Casemiro e Juninho (2013), Lucas Evangelista (2014), Boschilia (2015), Ademílson, David Neres e Ewandro (2016).


Se nem todos ficaram tempo o bastante para se tornarem ídolos – ou até mesmo para serem titulares –, eles trouxeram valores significativos ao clube, que, ano após ano, usa dessa estratégia para tentar fechar no azul. Das 10 maiores vendas da história do São Paulo, sete foram de jogadores da base. Por isso, mesmo que com prazo de validade, o torcedor cada vez mais sabe da importância e dos benefícios de usar jogadores formados em casa.


Se Ceni quiser, há material humano de qualidade em Cotia para ser usado em curto ou em médio prazo. Não há quase mais nada para se extrair da famosa geração 1996, mas ainda existem valores por lá das safras 1997 e 1998 – e é possível já projetar opções dos nascidos em 1999 e 2000, estes, ainda sub-17, são nomes a serem lapidados com carinho para que sejam usados a partir de 2018. Três deles já estão à disposição e prontos para serem usados no time principal.


Mesmo com instinto organizador, Shaylon já atuou aberto pela esquerda e seria opção à saída de Araújo; mas, a princípio, nosso treinador não o enxerga assim. Já Lucas Fernandes, visto como bom substituto de Cueva, também foi pouco testado até agora. Uma possibilidade seria recuá-lo, o tornando um meia central de mobilidade – como Rodriguinho, no Corinthians. Com a dupla de jovens armadores, os meias de Cotia, Frizzo, Geovane, Igor Gomes e Helinho devem demorar mais a terem promoção cogitada.


Já o terceiro é Éder Militão. Seguro nas oportunidades que recebeu, ele certamente é um dos melhores defensores já formados no CFA. Rápido, sereno e ágil nos desarmes, deve ganhar cada vez mais espaço e pode terminar o ano como titular, principalmente se algum zagueiro sair. É outro que deve gerar altos lucros muito em breve para o São Paulo.


Mais promessas de Cotia podem ganhar espaço com as possíveis saídas nesse momento. Ainda que não sejam opções de resultado imediato, para tomar conta da posição, os nomes apresentam talento o suficiente para integrar aos poucos o elenco de Rogério Ceni. Há alternativas para usar e para lapidar para o futuro próximo em cada um dos setores com saídas confirmadas ou especuladas. E, por isso, separamos algumas delas. Confiram:

- ZAGUEIROS (para saídas de Rodrigo Caio e/ou Lugano):


Lucas Kal, 21 anos (1996): Entre defensores formados pelo clube nos últimos anos, é o que possui um estilo mais próximo ao de Rodrigo Caio. Veio do Primavera, em 2011, e formou a dupla de zaga com Lucão no sub-15 e no sub-17. De biótipo um pouco mais franzino, é veloz nos combates pelo chão e possui técnica para sair jogando – por já ter atuado como volante.


Já no sub-20, jogou ao lado de Tormena e voltou a se destacar. Conquistou a Copa do Brasil, por duas vezes, Copa RS, Copa Ouro, Campeonato Paulista e a Libertadores da categoria. Foi emprestado ao Paraná Clube no primeiro semestre, mas não teve muitas oportunidades e retornou. Apesar disso, é o zagueiro da base mais pronto para integrar os profissionais.


Walce, 18 anos (1999): Não, o nome dele não é Wallace. É Walce mesmo – mas se pronuncia “Valce”. Nascido em Cuiabá, chegou em 2013, aos 14 anos, captado de uma escolinha de futebol de sua cidade natal. Outro que foi volante, no sub-15, ele foi adaptado como beque por Orlando Ribeiro, técnico do sub-17, por conta da boa estatura (1,87m) e qualidade nos desarmes.


Recuado, mostrou segurança junto de Diego Barbosa no sub-17 e foi campeão da Taça BH e do Campeonato Paulista, em 2016. Já neste ano, foi capitão da seleção sub-18 que disputou o Torneio de Toulon, na França. Rápido, bom na saída de bola e firme nas divididas, Walce é atualmente o zagueiro de maior potencial em Cotia e uma opção real para um futuro próximo.


- LATERAIS-ESQUERDOS (para saída de Júnior Tavares):


Caíque, 18 anos (1998): Não é exagero dizer que o melhor ala esquerdo da base atua como atacante. Mas, não por acaso, Caíque figurou entre os laterais ao ser relacionado para a partida contra o Sport. Canhoto talentoso, foi lapidado para atuar na linha de defesa desde que foi descoberto na escolinha de seu avô, em Hortolândia, aos 12 anos de idade – além de ter jogado assim nas seleções sub-15 e sub-17, quando até foi sondado por um time alemão.


No entanto, a vocação exclusivamente ofensiva sempre o fez ser testado no meio campo e, na metade de 2016, virou atacante de vez. Dessa forma, mais avançado, desandou a fazer gols e teve um salto de desempenho no sub-20. Segundo pessoas próximas, ele se sente mais à vontade como ponta, mas não descarta voltar à antiga posição. É boa opção nas duas funções.


Weverson, 16 anos (2000): Lateral-esquerdo titular da seleção brasileira sub-17, vem sendo observado por Rogério Ceni nos profissionais nas últimas semanas. Tratado como uma joia da posição, Weverson foi cobiçado por Flamengo, Grêmio, Santos e Atlético-PR antes de ser alojado no CFA, em 2013, após chamar atenção em escolinhas de futebol de Brasília, onde nasceu.


Com 1,83m de altura, o ala recompõe muito bem a linha de quatro defensores, uma característica marcante nos times de Orlando Ribeiro, sobe com consciência ao ataque e chega bem à linha de fundo. Tudo isso o fez despertar o interesse em dois gigantes do futebol mundial – um da Espanha e um da Alemanha. Contudo, como ainda está em desenvolvimento, ele será uma alternativa real somente a partir da Copinha 2018.


- VOLANTES (para saída de João Schmidt):


Pedro Augusto, 20 anos (1997): Nos últimos meses como jogador de base, Pedro espera há muito tempo por sua chance. Depois de fazer testes no Cruzeiro e no Fluminense, ele foi captado de uma escolinha em Ubã, Minas Gerais, em 2011. De lá para cá, sempre figurou entre os titulares de todas as categorias e teve desempenho sempre muito regular.


Inspirado em Casemiro, chama atenção pela imposição física na intermediária. Alto e com passadas largas, protege a defesa e trabalha bem nas viradas e distribuição de jogo. Wallace (Hamburgo, ex-Grêmio) e Wendell (Fluminense) são exemplos de jogadores com características semelhantes que trazem otimismo para uma possível oportunidade a Pedro Augusto.


Igor Liziero, 19 anos (1998): Meio-campista canhoto, forte fisicamente, bom passe e chegada ao ataque, Liziero reúne componentes que sempre o fizeram ser visto com potencial para, um dia, ser aproveitado nos profissionais do São Paulo. Um dos grandes destaques da safra 1998, teve grande destaque em 2015, ao defender a seleção brasileira no Mundial Sub-17.


O ano seguinte, porém, freou um pouco a vida do volante. Com a falta de laterais esquerdos, André Jardine o improvisou no sub-20 – e ele não foi tão bem. Em 2017, voltou a aparecer no meio-campo e a trazer expectativas quanto ao seu desenvolvimento dessa maneira, na qual nitidamente mostra ter mais potencial. Pode ser o substituto de João Schmidt no time de cima.


Rodrigo Nestor, 16 anos (2000): Certamente é o jogador da posição que apresentou mais talento desde Gustavo Hebling, e tem tudo para se tornar o próximo volante da base a atingir um alto nível, como Casemiro. Refinado, joga de cabeça de erguida e distribui passes de forma elegante, com as duas pernas, sendo capaz de clarear jogadas e deixar os companheiros na cara do gol.


Franzino, Nestor ainda fará 17 anos e precisa amadurecer, evoluir na marcação e ser mais constante em campo. Por isso, sua promoção não é uma alternativa para este ano, mas poderá acontecer em 2018. É outro da categoria 2000 que foi campeão sul-americano com a seleção brasileira sub-17 e que deve ganhar holofotes no Mundial da categoria, em outubro, na Índia.


- PONTAS (para saída de Luiz Araújo):


Léo Natel, 20 anos (1997): Figura constante no banco de reservas de Rogério Ceni desde março, Natel estreou contra a Ponte Preta, no Brasileirão, e teve somente oito minutos para mostrar serviço. A tendência, no entanto, é que suas aparições aumentem ainda mais nessa temporada após a saída de Luiz Araújo. Ágil, habilidoso e incisivo, Natel é o primeiro da fila na base para substituí-lo.


Descoberto em uma escolinha de Porto Alegre, foi levado para Portugal em 2015 e passou por testes no Belenenses antes de fechar com o Benfica. Da formação encarnada, foi emprestado para o sub-20 do São Paulo, em 2016, onde foi o melhor jogador da Copa RS 2016. Mesmo com a concorrência do Palmeiras, o Tricolor decidiu investir e o adquiriu por cerca de R$ 500 mil.


Marquinhos Cipriano, 18 anos (1999): Um dos jogadores mais valorizados da formação são-paulina, Cipriano é tratado como joia desde muito cedo e é visto como o sucessor de Lucas Moura. Não por acaso, fez o clube pagar R$ 1 milhão para tê-lo de volta. Isso porque, na verdade, ele iniciou sua carreira no Morumbi, mas acabou indo parar no Desportivo Brasil.


Arrojado, com arrancadas perigosas e imposição no 1x1, evoluiu significativamente nas finalizações desde que retornou, tanto que foi o artilheiro do último Paulista Sub-17, com 21 gols. Titular da seleção brasileira no Torneio de Toulon, é cobiçado por clubes como Arsenal, Juventus, Nice, Monaco e PSG, e deverá, no mínimo, trazer lucros para o investimento feito em seu futebol. Precisa ser lapidado para subir o quanto antes.


- CENTROAVANTES (para saída de Chávez):


Guilherme Bissoli, 19 anos (1998): Monitorado pelo São Paulo desde 2009, quando se destacava em times da cidade de Jaú, onde nasceu, passou a integrar a base em definitivo a partir de 2012. Se era um meia-atacante no sub-15, foi atuar mais próximo do gol no sub-17 e correspondeu: bom finalizador com as duas pernas, marcou 19 vezes e foi campeão estadual juvenil.


Medindo 1,77m, Bissoli não é um atacante de força e presença de área. Pelo contrário, é voluntarioso e se destaca pela intensa movimentação, abrindo espaço para infiltrações dos companheiros. Sem tantas oportunidades no sub-20 em 2016, voltou a ganhar espaço nesse ano, anotou três gols no Paulista Sub-20 e poderia ser peça no elenco profissional.


Gabriel Novaes, 18 anos (1999): Autor do único gol da seleção brasileira em Toulon, Gabriel Novaes teve a convocação como prêmio a uma carreira que tem tido uma ascensão meteórica, o fazendo ser comparado até com Luís Fabiano. Depois de defender a base do Joinville, ele jogava o Paulista Sub-17 de 2016 pelo Taboão da Serra quando foi contratado pelo São Paulo.


Pelo Tricolor, fez 14 gols e formou uma dupla de ataque arrasadora com Cipriano. Em 2017, foi às redes três vezes na conquista da Copa Ouro, mas aguarda mais chances com André Jardine no sub-20. Por mais que tenha força e tamanho para dividir com os zagueiros e reter a bola, se movimenta bastante e mostra ter habilidade para participar das ações ofensivas. Talento bruto.


Brenner, 16 anos (2000): Esse é um nome para o são-paulino ficar muito atento nos próximos anos. Também nascido em Cuiabá, Brenner tem feito um ano tão espetacular que é difícil até mesmo de acreditar na veracidade dos números. No Paulista Sub-17, ele fez assombrosos 28 gols em 11 jogos (!!!), média de 2,54 por partida– o time todo fez 49. No sub-15, ele havia feito 17 tentos.


São mais 21 partidas pela frente até a final, e o atacante tricolor está cada vez mais próximo do recorde de Gabriel Jesus na categoria – de 37 gols. Muito técnico, veloz e excelente finalizador, ele não é o camisa 9 convencional: busca o jogo o tempo inteiro e tem velocidade com a bola dominada. Deve formar dupla infernal com Vinícius Jr. na seleção sub-17 que disputará o Mundial.